domingo, março 09, 2008

Avaliar não sendo avaliado?

Depois do post em que falei em comédias nacionais ter feito uma ligeira passagem pela situação dos professores, aprofundei mais um bocado o meu pensamento sobre este caso nos comentários desse mesmo post em "discussão" com a Sílvia. Após a manifestação de ontem deu-me vontade de abordar o assunto num post...

Muito se tem falado sobre as avaliações dos professores nos últimos tempos, mas ou eu ando muito distraído ou conteúdo no que se fala é quase 0. Já todos sabemos e ouvimos dizer que os professores são contra este sistema de avaliação que a ministra propôs, mas o que é certo é que regra geral não apresentam uma ideia alternativa. Ainda ontem na televisão vi um jornalista a perguntar a uma professora qual seria então o sistema de avaliação que acharia correcto. A resposta foi simplesmente "outro". Como este exemplo, há muitos. Ou seja, a imagem que os professores estão a passar com estes protestos é que não querem ser avaliados, e só não dizem isso claramente porque isso lhes retiraria toda e qualquer credibilidade que estas manifestações apresentam.

A minha espanta-me é que só agora se tenha avançado com avaliações dos professores. Para mim é surreal que haja profissionais sem avaliações. O meu patrão todos dias me está a avaliar. E olhem que eu nem sequer posso escolher ou questionar os critérios de avaliação dele pois ele nunca me falou neles. Mas que todos dias estou sujeito a avaliação do meu trabalho, isso estou. Eu e a maior parte das pessoas. Alguém morre por isso? Claro que não, simplesmente trabalha-se e em condições normais se trabalhar bem não tem problemas com as avaliações. Claro que os critérios são muito discutíveis. No meu caso, como pertenço ao departamento de produção, o que conta é o que se produz (€), a satisfação dos fornecedores e dos clientes. Claro que para fornecedores e clientes estarem contentes implica bons preços para eles. Ou seja, estico de um lado, deixo a descoberto do outro. Que dizem, amanhã de manhã planto-me à porta da empresa com cartazes a reclamar que o modo como os meus patrões me avaliam é injusto?

Outra coisa é o facto de estas manifestações serem lideradas pelos sindicatos. Sindicatos esses que há uns anos com as suas reivindicações contribuiram para o excessivo número de professores que há hoje em dia. Mas mesmo assim os professores juntam-se a eles. Isto a mim soa a desespero e incapacidade de organização. Alguns juntam-se porque sem eles não tinham chegado a professores sem a formação adequada. Os outros juntam-se porque sim ou então porque realmente já não sabem o que mais fazer.

Percebo e sou solidário com a situação dos professores desempregados. São números que tem tanto de lamentáveis como de impressionantes. Mas era conveniente que alguém no meio deste mar de notícias sobre manifestações atrás de manifestações, analisasse porque se formou tanta gente em ensino mesmo a ver que ia entupir. Será por ser uma profissão com alguns privilégios que outras não têm? Muitas pessoas terá sido por gosto, mas muitas sabem que não foi bem por isso...

Não quis fazer disto um post contra os professores mas chegando ao fim, se calhar é isso que passa a ideia. Não é essa a realidade pois tenho professores na família e amigos e respeito imenso o que fazem. Agora não me condenem por querer que sendo o estado a pagar-lhes trabalhem tantas horas como eu e que sejam avaliados como toda gente o é quando está a trabalhar! Se as reivindicações não evoluírem, daqui a pouco o caminho é a privatização das escolas...


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4 Comentários:

Sílvia disse...

Bem, eu ja vi em vários jornais e revistas professores a apresentarem alternativas. No prós e contras também.

Eles nao dizem não querer ser avaliados, mas assim do nada é uma estupidez. Nem um ano de esperiência para se habituarem. Avaliados pelos professores titulares porquê? Se esses sao escolhidos de forma duvidosa. Pelas notas dos alunos? Se estiverem num meio desfavorecido levam logo um chuto da nossa querida "sinistra", e por ai fora...

Estão a fazer às três pancadas. E quanto aos sindicatos? Se houve gente que eles ajudaram foram os funcionarios publicos e os professores incluem-se. Tem de haver quem os junte, têm de haver manifestações, direito legitimo à greve...assim também se mostra o descontentamento e se é o sindicato que os ajuda porque não?

Quando às pessoas têm problemas com a entidade patornal lá vão a correr ter com o sindicato mesmo que não sejam sindicalizados e o sindicato ajuda. Nãp pode ser só para um lado.

Beijito

afectado disse...

Não podia faltar o teu comentário :)

Quanto aos que dizem que querem ser avaliados, não dúvido. Mas efectivamente de casa vez que ouço falar disso nunca ouço alternativas (mas também não tenho ligado muito ao assunto nos últimos tempos).

O que eu quis dizer dos sindicatos foi referir o que se passou quando há uns anos havia falta de professores... aí o sindicato meteu a pata na poça e agora pagam uns que como tu na altura nem trabalhavam.

Beijos

Ou não! disse...

Afectado, até ontem pensava assim, mas depois estive com um professor amigo e ele explicou-me como eles pensam avaliá-los e aí tive de lhe dar razão. A Silvia tem razão, avaliar pelas notas dos alunos é uma parvoíce, afinal são os professores que dão as notas. Avaliar pelo abandono escolar é outra estupidez. Porque vai pagar um professor se na turma dele desistiram 2 ou 3 alunos, e na turma de outro nenhum desistiu? E os titulares? Afinal o que conta para serem titulares? A formação, ou o tempo de profissão? E sabias que o facto de serem directores de turma é um critério? Vai logo haver jogo de interesses, porque é a escola que escolhe os directores de turma!

No caso do meu amigo, o problema dele não é ser avaliado, mas os critérios dessa avaliação. Afinal, interessa a forma como dá as aulas e os seus conhecimentos, ou as notas dos alunos? É porque sendo assim, em vez de 15, começa a dar 17 e 18.

E outra coisa, sabias que existe uma certa pressão para não haver negativas? Já qd era estudante, achava estranho que alunos que tiravam nega nos testes, conseguissem positiva na disciplina, tal como outros com positiva nos tais testes. E depois vejo, que eles são "aconselhados" a dar uma nota e a justificá-la à moda de não-sei-quem.

Há professores maus e que não são competentes para dar aulas e acho muito bem que sejam avaliados e obrigados a manterem-se informados e capazes. Mas tem de haver coerência na forma como se avalia e não querer apenas ter boas estatisticas.

Ou não! disse...

Desculpa lá o tamanho! :-DDD

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