sexta-feira, maio 09, 2008

Conversas II

Estava a ler "O que confessamos aos amigos", quando me surgiu a questão de o que confessamos a nós próprios. Não sei se muito mais... Acho que se torna mais fácil confessar algo a alguém do que o assumirmos perante a nossa pessoa. Porque sejamos sinceros: a nossa consciência pode pesar-nos toda uma vida, enquanto que a dos nossos amigos nos vai parecer bem mais leve... especialmente se deixarmos de nos dar com eles após a confissão.

Não quero com isto dizer que nos descartamos da imoralidade para cima de um melhor amigo e depois o abandonamos. Nada disso. E estou confiante de que existem de facto melhores amigos que não se permitem a um descarte tão frio... Mas uma confissão acaba sempre por mudar uma relação, qualquer que seja a natureza desta. E do que tenho visto, não demora muito até passarmos de um abrir de coração total e expormos os nossos piores pecados, até ao evitarmos o mais possível o detentor dessa honra. Porque tal como aconteceu com o Dorian Gray, é muito mas muito difícil olharmos para o pior de nós...

Sendo assim, desnudamo-nos perante um amigo, porque não aguentamos mais o peso da confissão e o queremos partilhar, ou porque desejamos no íntimo que a confissão limpe o pecado (ou pelo menos o esbata...) Se queremos ser castigados por alguém porque não nos conseguimos castigar a nós próprios ou se queremos ser expiados por alguém porque não o conseguimos fazer... a diferença também não é muita se é que existe. O resultado normalmente acaba por ser o mesmo: momentos de intimidade extrema, seguidos de um afastamento gradual, até acabarmos por deixar de falar com o nosso confessor. Por vergonha, rancor, arrependimento, porque deixámos de nos importar ou porque o continuamos a fazer... Não interessa. As confissões são sempre muitas e é impossível guardá-las só para nós. Até porque os monólogos interiores raramente têm ligação à realidade: acabam por perder a sua essência e transformam-se inevitavelmente em outra coisa qualquer. Como confessar o que quer que seja nestas condições? Como é que admitimos o nosso pior a nós próprios? Não vamos sempre acabar por nos arranjar desculpas? Penso que nisto somos o nosso melhor amigo. Ouçam o que vos digo: se querem uma confissão válida, arranjem alguém que vos queira ouvir, porque nós nunca queremos...
Texto escrito pela oh pa.


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2 Comentários:

M disse...

Aceitarmos o que somos é meio caminho para mudarmos. Só quando admitimos para nós próprios os nossos erros e falhas, podemos tentar mudar e corrigi-los. Existem coisas demasiado dolorosas de admitir, mas elas existem, elas aconteceram e continuar a fingir que não apenas trará um peso cada vez mais insuportável de carregar, ao ponto de duvidarmos de nós próprios. Tenho tentado nos últimos 2 anos melhorar esse aspecto e posso garantir que na maioria dos casos, admitir que falhei traz-me mais alivio e paz que antes da "admissão".

luafeiticeira disse...

Estás tão afectado, queres um ouvido?... Tens razão, estva só a brincar, claro que concordo contigo.
Olha, já agora, informo-te que o voo sobre o ninho de cucos continua...
beijos e bom fim de semana.

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